|  |  |  | Tordesilhas traduz, diretamente do húngaro, História Policial, do nobel Imre Kertész 
                  
                    |  | A América Latina é o cenário escolhido pelo escritor para  escapar da censura em seu país e mostrar a transfiguração dos indivíduos sob  regimes totalitários. |  |  
 Duplamente vítima de governos ditatoriais, Imre Kertész  é reconhecido mundialmente “por uma escrita que resguarda a frágil experiência  do indivíduo contra a bárbara arbitrariedade da história”, nas palavras do júri  que lhe conferiu o Nobel de literatura em 2002, pelo conjunto da obra. Por  conta de sua origem judaica, foi deportado para o campo de concentração de  Auschwitz quando tinha apenas 14 anos de idade – e da lá para o de Buchenwald,  de onde foi libertado pelas tropas soviéticas. Mas isso não significou a liberdade  de fato,  pois a Hungria passou a ser  governada por uma ditadura de esquerda. Em História Policial(que nesta edição  é acompanhado por posfácio de Luis S. Krausz), mais uma vez o autor expõe ao leitor  a barbárie do totalitarismo. Como Sem  Destino, talvez seu mais famoso romance, já havia sido censurado, para  publicar seu novo livro Kertész ambientou a história em um país fictício e sem  nome da distante América Latina dos anos 1970. Uma distância geográfica que  Kertész supera ao mostrar a essência de um governo autoritário e a  transfiguração que inflige nos indivíduos – sejam eles governantes ou  governados. Em ambos os casos, o individuo é engolido por uma lógica destrutiva  que gera cada vez mais violência.
 Ex-torturador preso pelos crimes cometidos quando  atuava nas forças de repressão, o narrador do livro, Antonio R. Martínez, escreve  suas memórias e, desta forma, escancara a lógica interna do sistema. Do relato emerge a  história de Federico e Enrique Salinas, pai e filho, ricos comerciantes locais,  presos e torturados pela equipe de Martínez. A narrativa é complementada por  uma segunda voz, a do próprio Enrique, por meio de trechos do diário que  escreveu e que agora está em poder de Martínez. Enrique é um jovem idealista  inconformado com a ditadura que se instalara no país. Apesar da vida abastada e  protegida, não consegue ser complacente com o que acontece à sua volta e precisa  agir – para o desespero de seu pai.Martínez era um  policial comum até ser transferido para o órgão de repressão à resistência –  que sofre com dores de cabeça periódicas que parecem relacionadas às suas  dúvidas morais. Depois da morte da velha ideologia,  Martínez vive dominado pelo medo, enquanto espera a sua provável execução.  Referindo-se o tempo todo à “lógica” dos eventos, que para ele é uma espécie de  destino, remete-nos à tese da filósofa Hannah Arendt de que os maiores crimes  da história não foram cometidos por monstros, mas por pessoas comuns enredadas  numa ordem burocrática. 
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              | Sobre o autor
 
 Imre Kertész nasceu na cidade de Budapeste, em 1929.  Descendente de judeus, foi prisioneiro em Auschwitz e Buchenwald. Trabalhou  como jornalista e tradutor antes de publicar seu primeiro romance, Sem destino. Também é autor de Kadish por uma criança não nascida, Liquidação e A língua exilada. Em 2002 foi agraciado com o Prêmio Nobel de  literatura. 
 Sobre o Tordesilhas Revisitando os clássicos  com criatividade, lançando autores consagrados de tradições literárias pouco ou  nada conhecidas por aqui, buscando novos talentos, disponibilizando literatura  de entretenimento sem perder de vista a qualidade, o TORDESILHAS oferece um  catálogo nada convencional e persegue o apuro na produção de seus livros,  aparatando as edições, fixando textos com rigor, convidando especialistas e  tradutores renomados. Seu compromisso é com a sensibilidade curiosa e  investigativa.
 
 
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